Ah, a incrível arte de evitar pessoas!
Não se nasce dotada dela, Há que se adquirir, com muito esforço, durante anos a fio; é preciso muita dedicação e disciplina, pois não se trata de tarefa fácil essa, a de evitar pessoas.
Pense em como é difícil, evitar por exemplo um "caçador de conversa", (o caçador de conversa está em quase toda parte, na fila do banco, na fila do supermercado, no ponto de ônibus, nas academias de ginástica, enfim, você irá lembrar de mim, quando se encontrar com um!), a tia fofoqueira que um dia resolve te visitar, o vizinho que bate à porta, para pedir farinha emprestado e não pára de falar (e muitas das vezes nem te devolve a farinha); a cunhada invejosa, que só fala mal de você e quando está na sua frente, te enche de elogios; o cara chato, que você pergunta "como vai?" apenas por educação, e ele resolve te contar, com todos os detalhes, mostrando que é tão educado quanto você.
Mas essas, são só algumas pessoas que acabamos evitando, por serem de alguma forma inconvenientes; mas e quando se trata de pessoas legais, pessoas que você gosta, e que ainda assim trata de evitar?
Pois é, as vezes evitamos amigos, familiares e até um possível amor, parece loucura, mas é assim mesmo que acontece, quem conhece essa arte sabe do que estou falando, pessoas assim têm o estranho poder de evitar quem amam, e não lhe perguntem o por quê, não saberiam responder.
O fato se dá, mais ou menos assim - Necessitam do carinho, do amor e da presença do outro, mas não conseguem se aproximar, nem deixam que se aproximem, e assim vão se passando os dias, os meses, e até mesmo os anos, sem que tomem uma atitude, aliás, a única atitude que tomam é a de se distanciarem ainda mais.
Dão toda sorte de desculpas: -Trabalham muito, falta tempo, estão em tratamento, viajando, muito ocupadas; são tantas as desculpas, das mais variadas possíveis; isso quando não resolvem culpar o outro (não que o outro não tenha culpa, porque hão de concordar comigo, não é porquê você não o procura, que também não devam te procurar); estão vendo como podem ser, além de tudo, egoístas?!
É que pessoas assim sentem satisfação muitas vezes, em ser sozinhas, não ter que conversar, que argumentar, que se explicar, que debater, que rir de piadas sem graça, se surpreender com uma novidade que para elas nada tenha de novo. Senten-se à frente do seu tempo muitas vezes, não sentem a necessidade de conviver com o outro, aturar o outro; como se fosse muito fácil, conviver com elas, ter que aturar-las(se bem que, se não houver aproximação, ninguém vai ter que aturar ninguém!).
Mas é que ser só as vezes cansa, as vezes chateia, as vezes entristece. Vejo que há uma grande dualidade entre essas pessoas, simpatizam-se com a indepêndencia de uma maneira geral, mas sentem falta de gente de vez em quando. É ótimo estar só, mas é péssimo se sentir sozinha; é maravilhoso não ter que dar satisfações, mas é tão triste não ter com quem dividir a vida, as dores, as angustias, as alegrias.
Assim vão deixando passar os dias diante de si, e não conseguem fazer nada pra mudar, deixam as pessoas passarem, permitem que vão embora, não fazem nada pra impedir, não pedem que fiquem, não dizem que precisam delas, que se importam com elas( elas vêem o contrário). Quantas e quantas vezes, um grande amor passou por você e você só soube dar um "aceninho de miss" e deixá-lo passar, como se não fosse nada, como se não significasse nada?
A incrível arte de evitar pessoas, tem nos ensinado a sermos frios, a não sentir dor, nem dó, nem falta, nem nada. Será reralmente que queremos passar a nossa vida nos lembrando das pessoas que deixamos passar? Aposto que não! Queremos lembrar das que deixamos ficar, mas é que não temos deixado ninguém ficar; é que não temos sido quem fomos criados para ser, temos sido quem não queremos ser.
Renata Machado